sábado, março 13, 2004
Liga dos amigos da "Teixeira Duarte, S. A."
"Sá Carneiro tinha um sonho: uma maioria, um Governo, um Presidente."; Pedro S.L. dixit, e parece-lhe a ele que isso seria bom.
Para os habitantes de Caxias(1) toda esta convergência partidária de sonho, levada ao extremo, vai, a breve trecho, tornar-lhes o dia-a-dia num pesadelo: duas maiorias (PSD/CDS na AR, PSD na C. M. de Oeiras), um Governo (PSD/CDS), dois Presidentes (PSD na C. M. de Oeiras e PSD na Junta de Freguesia), uns por grande vontade de deixar obra, como sói dizer-se, outros por manifesta falta de vontade em contrariá-los, vão plantar-lhes literalmente à porta, na colina que domina Caxias a Nascente, um mastodôntico complexo de fazer inveja a qualquer pato-bravo(2) nacional e verdadeira menina-dos-olhos da nossa mui respeitável Ministra da Justiça Celeste Cardona.
Constituído por dezasseis edifícios com entre seis a oito pisos, dotado de carreira de tiro, paiol, pavilhão desportivo, heliporto e demais comodidades modernas para os 3.500 funcionários da PJ, num total de 118.000m2 de área de construção e 60 milhões de euros (60 para já, que no final logo se vê...), recebeu o nome de baptismo de Cidade Judiciária.
Interessadíssimo, como se pode calcular, tanto no bem-estar de quem provê a parte oficial do seu sustento, como na racionalidade da coisa, o sr. Tiago Cardoso, assessor de imprensa do Ministério da Justiça, disse ao Público que "Efectivamente, a construção será uma realidade".
Pela sua parte, Teresa Zambujo, Presidente da C. M. de Oeiras, numa corajosa tentativa de equilíbrio entre uma muito, muito, grande vontade de agradar ao seu chefe (e nosso Primeiro!) e a manutenção dos votinhos dos eleitores da freguesia, condições quiçá fundamentais senão apenas para manter o lugarzinho, talvez mesmo até para abertura do caminho à almejada ascenção a uma pasta ministerial, lá vai dando uma no cravo ("Tive oportunidade de fazer sentir as nossas preocupações e de dizer claramente que, perante o projecto que nos foi apresentado, a câmara nunca daria um parecer favorável") e outras na ferradura ("adiantou que a ministra da Justiça, Celeste Cardona, lhe disse que o complexo que vai ser construído 'não corresponde ao que foi apresentado'" e que "Não temos dados, nomeadamente sobre os índices de construção, que permitam dizer se está contra [o PDM]"). Pois...
Do Presidente da Junta, nada se sabe...
Aguardam-se, já para 2007, ano de conclusão do complexo, substanciais melhorias na luta contra a criminalidade...
Diz que sim...
(1) Para quem não conhece, Caxias é uma aldeia; fica nos arredores de Lisboa, junto ao Tejo; o seu parque habitacional é fundamentalmente constituído por vivendas de dois pisos; a implantação da Cidade Judiciária vai implicar a destruição de vários hectares zona verde, entre a prisão de Caxias, o hospital-prisão e a Ribeira de Barcarena.
(2) Nota para os leitores mais novos: pato-bravo era a designação dada pelas pessoas da minha geração - os antigos - àqueles que agora são pomposamente denominados promotores imobiliários
Para os habitantes de Caxias(1) toda esta convergência partidária de sonho, levada ao extremo, vai, a breve trecho, tornar-lhes o dia-a-dia num pesadelo: duas maiorias (PSD/CDS na AR, PSD na C. M. de Oeiras), um Governo (PSD/CDS), dois Presidentes (PSD na C. M. de Oeiras e PSD na Junta de Freguesia), uns por grande vontade de deixar obra, como sói dizer-se, outros por manifesta falta de vontade em contrariá-los, vão plantar-lhes literalmente à porta, na colina que domina Caxias a Nascente, um mastodôntico complexo de fazer inveja a qualquer pato-bravo(2) nacional e verdadeira menina-dos-olhos da nossa mui respeitável Ministra da Justiça Celeste Cardona.
Constituído por dezasseis edifícios com entre seis a oito pisos, dotado de carreira de tiro, paiol, pavilhão desportivo, heliporto e demais comodidades modernas para os 3.500 funcionários da PJ, num total de 118.000m2 de área de construção e 60 milhões de euros (60 para já, que no final logo se vê...), recebeu o nome de baptismo de Cidade Judiciária.
Interessadíssimo, como se pode calcular, tanto no bem-estar de quem provê a parte oficial do seu sustento, como na racionalidade da coisa, o sr. Tiago Cardoso, assessor de imprensa do Ministério da Justiça, disse ao Público que "Efectivamente, a construção será uma realidade".
Pela sua parte, Teresa Zambujo, Presidente da C. M. de Oeiras, numa corajosa tentativa de equilíbrio entre uma muito, muito, grande vontade de agradar ao seu chefe (e nosso Primeiro!) e a manutenção dos votinhos dos eleitores da freguesia, condições quiçá fundamentais senão apenas para manter o lugarzinho, talvez mesmo até para abertura do caminho à almejada ascenção a uma pasta ministerial, lá vai dando uma no cravo ("Tive oportunidade de fazer sentir as nossas preocupações e de dizer claramente que, perante o projecto que nos foi apresentado, a câmara nunca daria um parecer favorável") e outras na ferradura ("adiantou que a ministra da Justiça, Celeste Cardona, lhe disse que o complexo que vai ser construído 'não corresponde ao que foi apresentado'" e que "Não temos dados, nomeadamente sobre os índices de construção, que permitam dizer se está contra [o PDM]"). Pois...
Do Presidente da Junta, nada se sabe...
Aguardam-se, já para 2007, ano de conclusão do complexo, substanciais melhorias na luta contra a criminalidade...
Diz que sim...
(1) Para quem não conhece, Caxias é uma aldeia; fica nos arredores de Lisboa, junto ao Tejo; o seu parque habitacional é fundamentalmente constituído por vivendas de dois pisos; a implantação da Cidade Judiciária vai implicar a destruição de vários hectares zona verde, entre a prisão de Caxias, o hospital-prisão e a Ribeira de Barcarena.
(2) Nota para os leitores mais novos: pato-bravo era a designação dada pelas pessoas da minha geração - os antigos - àqueles que agora são pomposamente denominados promotores imobiliários